terça-feira, 26 de julho de 2011

Cheio de vazio


Ana Carolina Seara


A rotina. Um dia cheio de atividades planejadas. Atividades programadas para dar conta de demandas. Afazeres: domésticos e profissionais. O mundo gira muito rápido. E logo é amanhã.

A pilha de livros para ler. A pilha de contas a pagar. A lista de e-mails para ler. As notícias para consumir. Assim é a vida moderna. Falta tempo para a poesia e para o não fazer.

Para sermos alguém no mundo atual,  tornamo-nos “gente que faz”. E faz muito, faz tanto, que já não sabe porque faz, como faz e para onde vai. Só sabe que o tempo urge e a pilha cresce. Perdidos no meio de tantas solicitações, talvez falte lugar para descobrir-se.

Descobrir, tirar o véu, olhar para aquilo que sustenta, para aquilo que esconde ou que se esconde por detrás de uma vida de afazeres e demandas: de gente que faz.

E, se por ventura, por um dia que seja, aquele homem que tanto fez e faz abandonar o personagem social?  Conseguirá ele deixar por alguns instantes a máscara repousar sobre a cadeira? E o que poderá encontrar por detrás das tantas capas que teve que usar para ser quem se tornou? 

Talvez esse seja o grande mistério, ou o grande enigma da humanidade: Descobrir-se quem se é. Teorias e descobertas científicas não dão, nem darão conta de responder a isso. Somos muito mais do que um amontoado de células organizadas em seus órgão com funções específicas.  Muito além do que a biologia, a filosofia, a história, a psicologia e todas as outras áreas do conhecimento, poderiam dizer sobre nós. Somos muito mais perguntas do que respostas. Muito mais mistério do que definições e, além disso, somos únicos. Não existe ninguém igual a você! Mesmo um irmão gêmeo univitelíneo, mesmo esse que carrega as mesmas informações genéticas, é diferente e guarda em si particularidades e sutilezas que o tornam distinto daquele que nasceu com o mesmo DNA que o seu. Incrível!

Diante disso, descobrir-se torna-se uma tarefa ainda mais fascinante. Descobrir a singularidade, aquilo que está oculto e nos torna únicos e assim especiais.  Tarefa essa que pode ser árdua e ir na contra mão do fluxo de exigências  modernas, afinal, nesse fluxo não temos tempo para isso.

Tempo para descobrir que pode haver poesia no dia a dia, tempo para ver e perceber o brilho nos olhos - em nossos olhos e no olhar alheio, tempo para sentir o coração batendo apressado diante de uma cena, o frio na barriga da ansiedade que precede um momento desejado, tempo para não ter pressa, tempo para encontrar um vazio que não gera  aflição, ansiedade, nem angústia, mas acalma.

Um comentário:

  1. Ao retirarmos a "máscara/véu", encontraremos...


    ... delicadezas.


    Seguindo.


    Cleber.

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