sexta-feira, 20 de abril de 2012

Coisa de louco?



Ana Carolina Seara

Cada vez mais, o trabalho do psicólogo, nas mais diferentes áreas de atuação, é reconhecido em nossa sociedade. No que diz respeito ao Psicólogo Clínico, vemos um aumento na procura por seus serviços e uma conscientização maior em relação à sua função e às suas possibilidades de atuação. Mas existem aqueles que, por desconhecimento ou preconceito, ainda acreditam que psicoterapia é “coisa de louco”, ou que acham que psicoterapia é sentar na frente de alguém e “contar seus problemas”.

É fato que, em uma sessão psicoterapêutica, as pessoas falam sobre seus problemas, mas fazem muitas outras coisas além de falar daquilo que já sabem sobre si mesmas. Afinal, posso falar de problemas com qualquer pessoa, mas nem todas possuem a escuta que um clínico tem; nem todas estão disponíveis para escutar; nem todas vão ouvir sem dar palpites ou conselhos (sobre o que elas fariam naquela situação); nem todas vão perceber aquilo que não é dito, mas se revela na forma como os problemas são contados; nem todas manterão sigilo sobre suas mais íntimas questões; nem todas estarão tão atentas ao que você diz para pontuar aspectos do seu discurso que você nem se deu conta; nem todas farão com que você encontre suas próprias respostas; e, mais além disso, nem todas farão pontuações que causem desvios e que permitam que você perceba algo sobre si mesmo que nem imaginava.

Quem seria o louco então? Quem procura terapia ou aquele que vive sua vida cotidiana, queixando-se dos mesmos problemas, preso às mesmas limitações, sem conseguir ver possibilidades de viver de uma outra forma?

Para trabalhar com Psicologia Clínica e fazer esse trabalho tão específico e importante, é necessário, além de ter cursado o  terceiro grau completo em Psicologia (curso que tem duração de 5 anos),  que o Psicólogo faça uma especialização em alguma abordagem clínica (Psicanálise, Comportamental, Junguiana, humanista, Gestáltica, etc.).  E, para que o profissional esteja sempre atualizado, é necessário que ele faça outros cursos de aprimoramento, outras especializações, estar sempre se reciclando, indo a congressos, seminários, pesquisando e estudando.

Os melhores centros de Psicologia Clínica priorizam trabalhar com profissionais com esse perfil, além de estimularem essa atualização constante, fundamental para um trabalho de qualidade. O local que escolhi trabalhar é um desses centros, onde a especialidade de trabalho dos clínicos é a abordagem Gestáltica (Gestalt-terapia). A função do Psicólogo Clínico nessa abordagem, na Gestalt, é dar lugar para aquilo que é outro, o outro eu mesmo. Este que poucos conhecem a fundo, que só se revela no desvio, este que se mostra ou se esconde por traz de um nome, um trabalho, uma família, mas que aparece nas horas mais inesperadas para mostrar que existe algo que o inquieta, algo que transborda, algo que pede por um lugar. E, quando esse apelo é escutado, aquele que faz terapia se sente mais “inteiro”.

A psicoterapia na abordagem Gestáltica também é o lugar para acolher as mais diversas produções daqueles que não encontram um lugar social, daqueles que, de tanto serem demandados, rompem com toda a “ordem” e que na terapia encontram um espaço em que podem produzir e encontrar meios de se organizarem. Também é o lugar para os aflitos que, por um desastre natural, doença grave e outras circunstâncias, não se reconhecem mais e podem encontrar na terapia dados e, a partir deles, recuperar “uma parte” sua e seguir adiante.  A terapia também é o lugar para aqueles que se alienam nas drogas ou desenvolvem transtornos alimentares.

Diante disso, retomo a pergunta: A terapia é coisa de louco? Ou loucos são aqueles que se acomodam na mesmice, se conformam em não ter lugar, se abandonam por falta de apoio, se isolam por não darem conta das demandas, se entorpecem por não verem saídas??

Psicoterapia é coisa séria, mas pode ser muito mais divertida do que se pensa. Psicoterapia é o lugar para tudo que não tem lugar num mundo que pede por mudanças, mas que muitas vezes não abre possibilidades.

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