Ana
Carolina Seara
Cada vez mais, o trabalho do psicólogo, nas
mais diferentes áreas de atuação, é reconhecido em nossa sociedade. No que diz
respeito ao Psicólogo Clínico, vemos um aumento na procura por seus serviços e uma
conscientização maior em relação à sua função e às suas possibilidades de
atuação. Mas existem aqueles que, por desconhecimento ou preconceito, ainda
acreditam que psicoterapia é “coisa de louco”, ou que acham que psicoterapia é
sentar na frente de alguém e “contar seus problemas”.
É fato que, em uma sessão psicoterapêutica,
as pessoas falam sobre seus problemas, mas fazem muitas outras coisas além de
falar daquilo que já sabem sobre si mesmas. Afinal, posso falar de problemas
com qualquer pessoa, mas nem todas possuem a escuta que um clínico tem; nem
todas estão disponíveis para escutar; nem todas vão ouvir sem dar palpites ou
conselhos (sobre o que elas fariam naquela situação); nem todas vão perceber
aquilo que não é dito, mas se revela na forma como os problemas são contados;
nem todas manterão sigilo sobre suas mais íntimas questões; nem todas estarão
tão atentas ao que você diz para pontuar aspectos do seu discurso que você nem
se deu conta; nem todas farão com que você encontre suas próprias respostas; e,
mais além disso, nem todas farão pontuações que causem desvios e que permitam que
você perceba algo sobre si mesmo que nem imaginava.
Quem seria o louco então? Quem procura
terapia ou aquele que vive sua vida cotidiana, queixando-se dos mesmos problemas,
preso às mesmas limitações, sem conseguir ver possibilidades de viver de uma
outra forma?
Para trabalhar com Psicologia Clínica e fazer
esse trabalho tão específico e importante, é necessário, além de ter cursado o terceiro grau completo em Psicologia (curso
que tem duração de 5 anos), que o
Psicólogo faça uma especialização em alguma abordagem clínica (Psicanálise, Comportamental,
Junguiana, humanista, Gestáltica, etc.). E, para que o profissional esteja sempre
atualizado, é necessário que ele faça outros cursos de aprimoramento, outras
especializações, estar sempre se reciclando, indo a congressos, seminários,
pesquisando e estudando.
Os melhores centros de Psicologia Clínica
priorizam trabalhar com profissionais com esse perfil, além de estimularem essa
atualização constante, fundamental para um trabalho de qualidade. O local que escolhi trabalhar é um desses centros, onde a especialidade de trabalho dos
clínicos é a abordagem Gestáltica (Gestalt-terapia). A função do Psicólogo
Clínico nessa abordagem, na Gestalt, é dar lugar para aquilo que é outro, o
outro eu mesmo. Este que poucos conhecem a fundo, que só se revela no desvio,
este que se mostra ou se esconde por traz de um nome, um trabalho, uma família,
mas que aparece nas horas mais inesperadas para mostrar que existe algo que o
inquieta, algo que transborda, algo que pede por um lugar. E, quando esse apelo
é escutado, aquele que faz terapia se sente mais “inteiro”.
A psicoterapia na abordagem Gestáltica também é o
lugar para acolher as mais diversas produções daqueles que não encontram um
lugar social, daqueles que, de tanto serem demandados, rompem com toda a
“ordem” e que na terapia encontram um espaço em que podem produzir e encontrar
meios de se organizarem. Também é o lugar para os aflitos que, por um desastre
natural, doença grave e outras circunstâncias, não se reconhecem mais e podem
encontrar na terapia dados e, a partir deles, recuperar “uma parte” sua e seguir
adiante. A terapia também é o lugar para
aqueles que se alienam nas drogas ou desenvolvem transtornos alimentares.
Diante disso, retomo a pergunta: A terapia é
coisa de louco? Ou loucos são aqueles que se acomodam na mesmice, se conformam
em não ter lugar, se abandonam por falta de apoio, se isolam por não darem
conta das demandas, se entorpecem por não verem saídas??
Psicoterapia é coisa séria, mas pode ser
muito mais divertida do que se pensa. Psicoterapia é o lugar para tudo que não
tem lugar num mundo que pede por mudanças, mas que muitas vezes não abre
possibilidades.
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