domingo, 27 de maio de 2012

Assim caminha a humanidade




Ana Carolina Seara

“Quando a gente tem todas as respostas vem a vida e muda todas as perguntas”, li essa frase pela primeira vez há muito tempo, e de tempo em tempo, em função de algum acontecimento, ela volta a povoar meus pensamentos, quase como um mantra ou uma constatação  “interna”.

O que é mais importante, as respostas ou as perguntas? No meu trabalho, pelo menos quando se trata de um ajustamento evitativo, fazer as perguntas “certas”  no momento oportuno possibilita desvios, que permitem que as pessoas descubram coisas que não sabiam sobre si mesmas. Nesses momentos, dar uma resposta seria furtar meu consulente ( paciente/ cliente) de criar e produzir com seu próprio suor novas possibilidades de viver sua vida, de assimilar e integrar suas próprias experiências.

Mas, na vida de maneira geral, o que é mais importante? Ter todas as respostas, ou saber formular as perguntas certas? Vivemos numa época das respostas prontas, dos livros de auto-ajuda com  as dicas para se viver, ser melhor, ter mais sucesso, das fórmulas prontas (todo mundo tem a sua e garante que ela funciona). A educação contemporânea, apesar de muito distinta das mais tradicionais, não ensina a questionar. E questionar não é necessariamente ir contra. Para questionar, precisamos ter uma boa habilidade de observar, aprender com as experiências, escutar, refletir; e a maioria das pessoas não aprendeu a fazer isso. Mesmo com a internet que permite mais possibilidades de escolha do que a televisão, as pessoas acabam escolhendo os textos curtos, as frases de impacto, a leitura fácil que traz em si todas as “respostas”. Mas a vida não é assim.

A vida está sempre nos tirando do lugar, nos questionando, nos abrindo possibilidades de perceber o mundo por outros vieses. Não existem respostas prontas ou certas. O que existe são possibilidades: às vezes muitas, às vezes poucas. E se, ao longo da vida, não aprendermos a escolher diante desse emaranhado de informações, tropeçaremos muitas vezes nas nossas próprias respostas (ou certezas). É muito sedutor saber a resposta: quem não gostaria de ter uma bula com informações sobre nosso semelhante? Quem não gostaria de ter a “bola de cristal” com as respostas sobre o futuro ou sobre o que poderia acontecer se tomássemos determinado caminho?

E a resposta? Quase sempre estará dentro de nós mesmos. O que a vida nos faz através das perguntas que nos coloca ou nos impõe é permitir que possamos aprender a trilhar nosso próprio caminho e nos responsabilizar pelas escolhas que fazemos, porque garantias não temos, nem nunca teremos. Por isso, viver é um desafio, um grande desafio para os que têm coragem de olhar para si mesmos na busca por respostas que só trarão novas perguntas.

E assim deveria caminhar a humanidade.

Um comentário:

  1. Show Ana, mais um belo texto.
    Hoje cada vez sentimos que não temos tempo, tudo temos pressa. Só que olha só, estamos numa era em que tudo está ficando mais fácil, a tecnologia utilizada de forma adequada, possibilita cada vez mais termos tempo para as coisas que realmente gostamos. Só que não é isso acontece, acumulamos mais e mais compromissos e tudo parece sempre ser pra ontem? Que loucura isso. Ler um texto como o teu é algo que tem que ser agendado rsrs. Vida louca, acho que também viajei no comentário.

    Frederico da Luz

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