Ana Carolina Seara
“Quando a gente tem todas as
respostas vem a vida e muda todas as perguntas”, li essa frase pela primeira
vez há muito tempo, e de tempo em tempo, em função de algum acontecimento, ela
volta a povoar meus pensamentos, quase como um mantra ou uma constatação “interna”.
O que é mais importante, as
respostas ou as perguntas? No meu trabalho, pelo menos quando se trata de um
ajustamento evitativo, fazer as perguntas “certas” no momento oportuno possibilita desvios, que permitem que as
pessoas descubram coisas que não sabiam sobre si mesmas. Nesses momentos, dar
uma resposta seria furtar meu consulente ( paciente/ cliente) de criar e
produzir com seu próprio suor novas possibilidades de viver sua vida, de
assimilar e integrar suas próprias experiências.
Mas, na vida de maneira geral, o
que é mais importante? Ter todas as respostas, ou saber formular as perguntas
certas? Vivemos numa época das respostas prontas, dos livros de auto-ajuda
com as dicas para se viver, ser
melhor, ter mais sucesso, das fórmulas prontas (todo mundo tem a sua e garante
que ela funciona). A educação contemporânea, apesar de muito distinta das mais
tradicionais, não ensina a questionar. E questionar não é necessariamente ir
contra. Para questionar, precisamos ter uma boa habilidade de observar,
aprender com as experiências, escutar, refletir; e a maioria das pessoas não
aprendeu a fazer isso. Mesmo com a internet que permite mais possibilidades de
escolha do que a televisão, as pessoas acabam escolhendo os textos curtos, as
frases de impacto, a leitura fácil que traz em si todas as “respostas”. Mas a
vida não é assim.
A vida está sempre nos tirando do
lugar, nos questionando, nos abrindo possibilidades de perceber o mundo por
outros vieses. Não existem respostas prontas ou certas. O que existe são
possibilidades: às vezes muitas, às vezes poucas. E se, ao longo da vida, não
aprendermos a escolher diante desse emaranhado de informações, tropeçaremos
muitas vezes nas nossas próprias respostas (ou certezas). É muito sedutor saber
a resposta: quem não gostaria de ter uma bula com informações sobre nosso
semelhante? Quem não gostaria de ter a “bola de cristal” com as respostas sobre
o futuro ou sobre o que poderia acontecer se tomássemos determinado caminho?
E a resposta? Quase sempre estará
dentro de nós mesmos. O que a vida nos faz através das perguntas que nos coloca
ou nos impõe é permitir que possamos aprender a trilhar nosso próprio caminho e
nos responsabilizar pelas escolhas que fazemos, porque garantias não temos, nem
nunca teremos. Por isso, viver é um desafio, um grande desafio para os que têm
coragem de olhar para si mesmos na busca por respostas que só trarão novas
perguntas.
E assim deveria caminhar a
humanidade.
Show Ana, mais um belo texto.
ResponderExcluirHoje cada vez sentimos que não temos tempo, tudo temos pressa. Só que olha só, estamos numa era em que tudo está ficando mais fácil, a tecnologia utilizada de forma adequada, possibilita cada vez mais termos tempo para as coisas que realmente gostamos. Só que não é isso acontece, acumulamos mais e mais compromissos e tudo parece sempre ser pra ontem? Que loucura isso. Ler um texto como o teu é algo que tem que ser agendado rsrs. Vida louca, acho que também viajei no comentário.
Frederico da Luz