quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Brilho nos olhos...

Ana Carolina Seara

Depois de 12 anos de profissão, ainda me encanto com o “brilho nos olhos”. Aquilo que nem todos percebem, a doce  e sutil mudança de um olhar... do fosco ao brilho que emana dos olhos e contagia boca, orelhas, nariz, se espalha como faísca e invade o corpo todo.

O momento do brilho no olho é aquele singular instante em que percebemos que uma pessoa encontrou dentro de si aquilo de mais valioso que pode achar: ela mesma. É o momento em que tudo parece fazer sentido.  Mas qualquer descrição que eu possa fazer, com o infindável número de palavras e arranjos que conheço e posso criar, não será capaz de alcançar, porque ele é muito mais do que tudo isso. Somente aqueles que já viram, já sentiram ou já se deram conta desse precioso instante, sabem ao que eu estou me referindo.

Nesses anos de trabalho como psicoterapeuta, tive o privilégio de presenciar vários momentos desses e como dever ético (da ética no sentido de morada e acolhida ao outro que surge quando alguém nos procura) sinalizei para meus consulentes aquilo que via, naqueles momentos em que somos apenas espelho da beleza do outro, e que há uma sutil mistura, pois nos afetamos por esse brilho e parte nossa fez parte dele.

Devolver àqueles que nos procuram isso que tanto nos encanta, de olhos (algumas vezes) quase mortos em vida ao mágico brilho (que talvez a fisiologia explique) mas que é tão evidente quanto seu efeito nas  vidas dessas pessoas, é algo muito especial e certamente um dos pilares que nos sustentam nessa profissão (tão dura, algumas vezes).

Mas, como a vida não é só feita de trabalho, também é preciso buscar o brilho nosso de cada dia, ir atrás do que nos encanta, descobrir novos cenários nas mesmas ruas, novos ângulos nas mesmas estradas, des-cobrir o que nos toca e faz com que toquemos a pontinha do Céu com nosso olhar.

Um desejo? Que possamos encontrar esse brilho e... reencontrá-lo todas as vezes que o tivermos perdido.

“Que a vida nos revele sempre algo notavelmente novo todos os dias. A poesia está nesse olhar de cada dia que a gente dá pra cada dia que a gente vive. Vamos em frente. Tudo novo de novo.”
MOska

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