terça-feira, 24 de maio de 2011

O monstro do fundo do poço


Ana Carolina Seara

A cada passo, ouvia o eco do salto batendo no chão. E o ruído preenchia o espaço vazio dos pensamentos, quase como a rota de fuga possível para dar trégua à máquina de pensar... Mas, por que afinal precisamos preencher todos os espaços? Que loucura compartilhada é essa que nos faz querer dar um sentido e uma explicação para tudo o que acontece: seria uma compulsão para não chegarmos no vazio, como se um monstro estivesse lá? 

Algumas filosofias e práticas andam na contra-mão dessa urgência e, não por acaso, estão a cada dia ganhando mais espaço: yoga, meditação, filosofias orientais. Elas nos levam para o caminho que a rotina alienante dos tempos modernos nos faz fugir. Esse é o paradoxo: a urgência do capitalismo nos transforma em máquinas que repetem compulsivamente aquilo para o qual foram treinadas; e a repetição aliena e nos torna máquinas improdutivas pelo desgaste das engrenagens.

Mas, de fato, talvez o monstro esteja lá! Entretanto o monstro, nada mais é do que algo que foi encarcerado, um desejo escondido, uma revelação conhecida, mas negada. E a fera talvez seja muito mais bela do que se imagina no seu potencial de realização de desejos. E, como toda fera que foi mantida em cárcere, precisa ser integrada e de certa maneira “domesticada”. Afinal, vivemos em sociedade e, mesmo a contra gosto, precisamos saber como nos portar diante dela, e isso pode significar evitar riscos à nossa própria integridade (física e psíquica). 

Chegar no vazio é como encontrar o monstro ou  chegar no fundo do poço. E talvez possa ser desesperador imaginar essa cena. Alguns dizem que fundo do poço tem mola, é uma metáfora interessante que talvez ajude a diminuir a ansiedade, mas não acaba com ela e nem com o receio e as muitas fantasias que podem acompanhar a imaginação dessa cena. Talvez o fundo do poço seja um lugar desconhecido que você prefira entrar acompanhado (sim, essa é uma das atribuições do psicólogo: entrar no fundo de vários poços e dar um empurrãozinho para a saída, em outros casos, o empurrão é em direção ao poço, porque passar a vida sentado na beirada do poço também pode ser desesperador).

Seja qual for o caso é certo que existe um caminho. Receitas não existem, mas caminhos são construídos. Esse é o lugar do Gestalt-terapeuta, auxiliar na construção de caminhos, sucitar desvios necessários, construir pontes, etc. Ele é como se fosse uma espécie de “mestre de obras” com um referencial teórico e algumas ferramentas (ou instrumentos) que possibilitam que cada um construa o seu próprio caminho.

2 comentários:

  1. Graziela Judith Bonatti28 de maio de 2011 às 08:51

    Ana, faz tempo que não navego pela internet simplesmente pra ler e acompanhar o que "se passa".
    Enfim, que bom que passei por aqui!
    Sim, o fundo do poço pode ser desesperador, ou assustador, mas depois que mergulhamos em um ou dois, o receio e o desespero vão diminuindo e fazer essa trajetória em boa companhia é simplesmente mágico! Tanto para quem caminha, quanto para aquele que acompanha.
    Adorei!!
    : )

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  2. Concordo Grazi!!
    Bom saber que gostou!
    A "casa" é sua, apareça pra visitar e comentar quando quiser! Beijo!

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