sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Ana Carolina Seara
 
Estamos no final de novembro e, quando me dou conta o ano já está quase no fim, o comércio se movimenta, afinal estamos próximos do Natal quando as vendas costumam aumentar, e porque não, antecipar? Início de novembro começaram os preparativos, decoração nas lojas, e nós: consumidores, nos vemos às voltas com todos os estímulos típicos desse apelo natalino (e um tanto quanto comercial). Ainda temos um mês! Mas a sensação de que o final do ano se aproxima rapidamente cisma em nos acompanhar...

Você consegue lembrar como o tempo demorava a passar quando éramos crianças? Aquela pergunta que não queria calar de nossas pequenas bocas: “Demora muito pra chegar o Natal?” E o tempo parecia uma eternidade e aquele Natal ou férias que “nunca” chegavam. Então, porque agora, insistimos na frase “nossa, como o ano passou rápido!” Será que o tempo mudou desde aquela época? Ficou mais curto, passa mais rápido... ou tudo não passa de uma questão relativa?

Bom, se formos analisar bem, o mundo mudou muito de uns anos pra cá. A tecnologia dos meios de comunicação avançou muito nesses últimos 20, 30 anos: internet, celulares, canais de TV a cabo, etc. Somos atualmente bombardeados por muita informação e, praticamente em tempo real, sabemos de algo que aconteceu do outro lado do globo. Temos acesso a produções de todos os países através do nosso grande companheiro: google, conversamos com amigos que se mudaram para outros continentes pelo skipe, msn e redes sociais. É, os tempos mudaram, ainda me recordo da época em que o companheiro era o Aurélio (Buarque de Hollanda) e, para redigir os trabalhos escolares usávamos, papel e caneta ou, para trabalhos mais formais, a máquina de escrever. 
 
Então deixemos de nostalgia, pois os tempos modernos propiciaram muitas facilidades. Mas seriam essas tais facilidades que fizeram com que o tempo encurtasse? Será que estamos tendo pouco tempo para assimilar tantas informações? A tecnologia, por um lado, nos faz economizar tempo, podemos pagar contas no caixa eletrônico ou mesmo pela internet, resolver um assunto importante pelo celular, fazer uma pesquisa através do google, que levaria muito mais tempo se fossemos fazê-la em livros ou enciclopédias (que hoje se tornaram obsoletas, você lembra da BARSA?). Por outro lado, ocupamos muito mais nosso tempo resolvendo rápido algumas questões, mas a sensação de que temos pouco tempo persiste, as 24 horas de um dia parecem insuficientes- essa é a queixa lugar-comum: “não tenho tempo”.

“O tempo não para” disse Cazuza, em uma de suas composições. Poeta de uma geração, Cazuza foi um contestador e talvez não tenha tido tempo para acompanhar o que o tempo fez conosco, ou o que fizemos com o tempo. Mas, se o tempo não para e se nós não paramos no tempo, retorno à pergunta: o que está havendo com o tempo no mundo “moderno”? Já vivemos alguns bons anos e um ano na vida de quem tem sete anos pode ser muito diferente do que um ano para quem já viveu 30, 40 ou 50 anos. Crescemos, temos mais responsabilidades, ocupamos o tempo com várias demandas que nem vemos o tempo passar.

Você já teve a sensação de que o tempo para em determinados momentos? Nas situações em que está aguardando por algo ou quando sente uma dor muito forte e parece que as horas se arrastam? Ou, em uma viagem ou final de semana muito prazeroso,em que o tempo parece voar? Se olharmos por esse ângulo, a sensação de o tempo passar pode ser muito relativa. Na perspectiva da Gestalt-terapia, o passado e o futuro estão contidos no tempo presente. Ou seja, como gestalt-terapeutas, compreendemos que aquilo que somos hoje está relacionado àquilo que fomos e àquilo que planejamos ser: no presente está o passado e o futuro. Em função disso, as intervenções nessa abordagem são realizadas a partir daquilo que acontece hoje, afinal não podemos voltar no passado para modificá-lo, nem prever o futuro. Mesmo as ressignificações do passado, que acontecem em um processo terapêutico, só podem ocorrer no presente. 
 
Portanto, seja dentro ou fora de um processo terapêutico, talvez o único tempo que de fato importe seja o agora, o que acontece no momento presente. É nele que reatualizamos diariamente, minuto a minuto, o que somos, o que fomos e o que iremos ser, a partir de cada pequena ação, cada modificação, cada deliberação. Então viva, em todos os sentidos que essa palavra pode conter, seu presente!

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