sábado, 4 de dezembro de 2010

Ano novo, vida nova?

Ana Carolina Seara

Há quem diga que fim de ano é um momento propício para uma revisão. Os doze meses passaram, você relembra os desejos e projetos que tinha para o ano... aqueles feitos na virada do ano anterior junto, ou não, das tão conhecidas simpatias (comendo uvas, romã, pulando as ondas do mar, ou qualquer outra coisa do gênero), ou mesmo aqueles que você fez no último aniversário assoprando as velinhas do bolo. E aí? Eles se concretizaram, ou serão novamente colocados no topo da lista à espera dos próximo doze meses? 
 
Assim como o carro que conduzimos precisa de uma revisão anual para dar segurança ao motorista: troca de óleo, balanceamento e geometria, verificação dos freios, enfim... todos os itens de segurança que permitem que ele não gere nenhuma surpresa desagradável, nossa vida também necessita de uma revisão periódica. E, como nossa vida tem muitas esferas, é preciso verificar as partes, uma a uma: profissional, pessoal, social e não podemos esquecer da doméstica (o lugar onde moramos). 
 
Então vamos começar pelo fim: sua residência. Você é daquelas pessoas que guarda tudo? Acumula panfletos, imãs de geladeira, papeizinhos com anotações e aqueles números de telefone que não se lembra mais de quem é, no armário do quarto existem muitas peças de roupas que você descobre por acaso e que há mais de cinco anos não usa, na cozinha existem utensílios que hoje apenas guardam a lembrança do dia em que foram úteis, reserva na sala objetos que ganhou de presente e nunca gostou mas não quis jogar fora, tem uma caixa cheia de remédios, grande parte com o prazo de validade expirado, no seu escritório há um acúmulo de papéis não identificados, livros lidos pela metade, canetas que um dia funcionaram? Ou você é do tipo que separa no armário camisetas por cores, as pilhas nunca são grandes demais, não precisa fazer limpeza nas gavetas porque não guarda nada, a louça sempre lavada, a cama sempre impecável, tudo no seu devido lugar e sobre a escrivaninha nem um papel sequer pra contar a história de que um dia sobre ela eles puderam estar? E na sua vida? Você guarda lembranças do passado (ou deleta tudo num clique), segue uma rotina diária com horário certo para o almoço, jantar e lanche da tarde (ou não consegue seguir nenhuma rotina)? Se identifica com o trecho da música Cotidiano de Chico Buarque “todo dia ela faz tudo sempre igual”? 
 
Algumas teorias afirmam que nossa casa pode ser considerada um reflexo do nosso interior. Como está sua casa? Organizada? Bagunçada? Precisando de um check-up geral? Ihh..o caso é grave então! Teorias à parte, observar a nossa residência, por fora e por dentro pode auxiliar a compreender a maneira como nos organizamos internamente. A forma como mantemos os hábitos dentro de nossa casa pode ser muito semelhante à forma de sermos e nos relacionarmos: o apego ao passado (ou total desapego), a rigidez numa metodologia (ou a falta de qualquer método), a repetição de hábitos muito antigos, sem talvez nem questionar se eles são funcionais e realmente satisfatórios ou apenas uma forma habitual e conhecida de manter as coisas como sempre foram. Mas as coisas que são como sempre foram nem sempre nos levam para os lugares que desejamos. Isso faz lembrar dos pedidos feitos para o ano que vai nascer.

Repetir velhas formas ou hábitos muito antigos pode ser apenas uma maneira de estar no controle da situação. Afinal, se eu faço tudo sempre igual, o resultado será sempre igual (ou muito parecido) e, dessa forma, nada irá me surpreender (nem negativa, nem positivamente!). Ao longo da nossa vida, repetimos muitos modos de ser, aqueles que surgiram quando ainda éramos crianças e que, naquele momento, identificamos como uma forma possível e aceita de ser e fazer as coisas. Então nós crescemos, não vivemos mais com nossa família de origem, não precisamos mais corresponder ao desejo de nossos cuidadores, mas alguns hábitos persistem. É bem possível que muitos desses hábitos incorporados sejam de grande utilidade, mas, infelizmente, nem todos. Repetir uma forma conhecida de ser e fazer as coisas pode aliviar a ansiedade na medida em que não nos deparamos com nada novo, mas pode ser um caminho para a insatisfação quando essas formas não ajudam a enfrentar nossos temores, a lidar com o desconhecido e crescer.

Não existe muita saída, é preciso abandonar o vidro antigo de remédio: ele não faz mais efeito porque a validade expirou. É verdade, um dia ele foi útil! Mas hoje não funciona mais, e tomar remédio vencido pode piorar o problema ou simplesmente não fazer o efeito desejado. É preciso que se encontre novas fórmulas! E essas fórmulas não estão à venda, ou seja, para que se descubra maneiras de resolver os problemas da atualidade, problemas esses que nos impedem de concretizar nossos desejos, é preciso que façamos uma revisão geral. Criar um modo novo para organizar as gavetas internas é uma descoberta individual que algumas vezes pode ser facilitada por um profissional, mas ninguém pode fazer isso por você. Só você pode jogar fora os papéis que não servem mais, aprender a guardar os que podem ser úteis, selecionar e descobrir o que de fato importa. Ou você pode manter tudo no mesmo lugar e... não se esqueça de fazer uma cópia xerox da lista antiga de desejos, ela será muito útil nesse e nos próximos anos.

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