domingo, 19 de dezembro de 2010

Mudaram as estações...

Ana Carolina Seara

Está chegando o verão no hemisfério sul: estação que anuncia muito sol, no litoral as praias lotadas, férias, um novo ano está para começar... E o clima é de festa: Natal, confraternizações de fim de ano, Reveillon, as festas esquentam, logo mais chega o carnaval... E os problemas?

Os problemas somem, ou são guardados no fundo de alguma gaveta junto da papelada que aguarda por ser encaminhada. Afinal: a ordem é ser feliz! Entre sorrisos falsos e conversas sobre amenidades, todos vão “muito bem, obrigado”. Mas, será?

O clima de fato, e de acordo com alguns estudos científicos, tem grande influência no humor das pessoas; e pessoas bem humoradas tendem a ver e se focar no lado bom das coisas. E as coisas podem ter sempre um lado bom (é verdade que nem todas), mas, seguindo esse raciocínio, se tudo tem um lado bom, também tem um lado nem tão bom, ou ruim. O realista é aquele que consegue ver os dois lados da moeda. 

Mas deixemos as “coisas” de lado e vamos voltar àquilo que está no fundo das gavetas. Aquilo que foi guardado bem escondido e que só sairá de lá, quando o clima esfriar, quando a rotina voltar a bater na porta, quando a euforia não for mais generalizada, quando as festas esvaziarem e os motivos de confraternizar forem postos de lado... Será que nesse momento iremos ouvir Renato Russo e suas lindas composições? “Mudaram as estações, nada mudou... Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim, tão diferente...” O clima muda, mas nem sempre nós mudamos e aprendemos a resolver nossas pendências. Refiro-me aqui às pendências que sempre retornam de situações mal ou não resolvidas, daqueles velhos companheiros de jornada, que cismam em nos acompanhar quando nosso desejo era de que eles ficassem quietinhos debaixo do tapete. As estações mudam o tempo todo, muitos verões, muitos outonos, invernos e primaveras. Cada uma nos remete a uma fase da vida: as fases de abertura, as fases de encerramentos, as fases de recolhimento e as fase de recomeços.

Entretanto, nem sempre as estações do ano coincidem com os momentos em que vivemos. Nem sempre estamos abertos e disponíveis no verão, mesmo com o sol, as férias e os apelos para “ser feliz e mais nada”; nem sempre estamos encerrando etapas no outono, apesar de as folhas caírem e a chuva começar a ser mais frequente; no inverno, nem sempre estamos recolhidos debaixo das cobertas fugindo do frio e recorrendo aos chocolates para esquentar “a alma”; e, na primavera, nem sempre estamos desabrochando junto com as flores que insistem em dar seu ar da graça e do clima ameno que agrada a quem se diverte e a quem tem que trabalhar. Mas, que elas influenciam, influenciam, afinal não vivemos numa bolha, e é mais difícil preservar o bom humor, depois de tomar um banho de chuva gelada ou suportar o vento frio que acompanha os invernos mais rigorosos. Nem é possível passar desapercebido por um lindo amanhecer de sol ou pela bela paisagem de flores e frutas a colorir o ambiente.

Se, por um lado o clima e os apelos típicos de cada estação contribuem para nossos estados de humor e na forma como encaramos os problemas, por outro podem ser uma maneira de escapar ou de se fixar nos percalços da vida. Estados “depressivos” e/ou melancólicos podem fazer com que um simples problema se torne uma tempestade emocional; estados de alegria e/ou euforia podem amenizar grandes problemas. Bom, isso sim pode ser um problema: o problema do problema! Se lidarmos com imprevistos, contrariedades e coisas do gênero como motivos para nos isolarmos em casa, acharmos que o mundo conspira contra nós e nos percebermos como o pior dos seres, e se lidarmos com questões importantes de forma leviana, conseguiremos então piorar os problemas.

É difícil alguém que nunca tenha se deparado com questões a resolver, sejam elas grandes e complexas, ou pequenas e simples, a forma como iremos encarar cada uma delas depende de vários fatores, entre eles: nosso estado de humor, do que conseguimos assimilar ao longo da vida e do nosso crescimento pessoal. Essas duas últimas podem ser desenvolvidas através de um processo terapêutico, já a primeira, depende de fatores genéticos e ambientais como as mutáveis estações do ano. Entretanto, para que possamos aproveitar bem cada fase, é preciso que estejamos muito atentos àquela pessoa que vai nos acompanhar por toda nossa vida: nós mesmos, com e apesar dos invernos e verões.

2 comentários:

  1. Bonito este texto. Mas além de bonito ele me provoca algumas reflexões a mais... Sinto nas pessoas do meu convívio uma imensa dificuldade de se falar sobre os problemas e as dores.... Parece que se tornou mais fácil colar um sorriso no rosto e dizer que está tudo bem e que se está feliz, quando o que realmente acontece é o inverso. Dá mais trabalho explicar porque não estamos bem. E também somos considerados chatos e pessimistas num mundo onde todos se esforçam para parecerem bonitos, saudáveis, bem sucedidos e, principalmente, felizes. Acho tudo isso muito frágil e triste. Ou será que sou eu quem está andando na contra-mão da história?

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  2. POIS É! Boas perguntas essas que vc fez! Quem estaria na contra-mão? Quem questiona ou quem se acomoda e se adapta? Acredito que às vezes é preciso andar na contra-mão pra que as pessoas passem a se questionar qual é a direção certa. Impactar, provocar um desvio na normalidade (enquanto estatística)é andar na contra-mão. E talvez n exista uma direção certa, talvez o que exista seja a direção que faz sentido, que traz paz interior...e nos nos leva a sermos e nos sentirmos melhores!
    Abraço! Ana

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