sábado, 9 de abril de 2011

Ouvidos, ecos e silêncio

Ana Carolina Seara
Ouço pessoas, muitas pessoas, tantas pessoas que às vezes perco a conta. Sou Psicoterapeuta, meu trabalho envolve ouvir pessoas, mas vai muito além de ouvir. Entretanto, não pretendo aqui falar do meu trabalho, mas do dia-a-dia, da vida, daquilo que todos, trabalhando exclusivamente com pessoas ou não, vivenciam.

Saímos de casa e encontramos tantas pessoas no caminho: a moça da limpeza, o síndico no elevador, e na portaria, aqueles que zelam pela nossa segurança. Durante o dia, muitos encontros e muitas conversas, com estranhos e conhecidos: parceiros de trabalho, parceiros de cidade, de congestionamento, de condomínio, de academia. Compartilhamos o tempo todo coisas com outras pessoas: compartilhamos dias de sol, chuvas torrenciais, perplexidade a respeito de notícias reais, mudanças de clima, enfim. E, nessa troca, ouvimos pessoas, muitas pessoas, e noutras vezes também somos escutados. Mas que necessidade é essa de compartilhar informações? Viveríamos ou sobreviveríamos sem esse tipo de interação? Sem saber o que o outro pensa sobre nossas considerações, sem desabafar nossas opiniões, sem esse semelhante com quem falamos e ouvimos?

Muitas vezes sou só um ouvido, isso mesmo. Tenho a sensação que meus olhos e boca são totalmente supérfluos em algumas interações - sou platéia. Noutras vezes, sinto que o que ouço exige de mim algo que não tenho pra dar - sou angústia. Existem também as relações em que há um ser ouvinte e um ser falante e eles alternam os lugares, dando espaço também para um silêncio, indicando que existe ali dois seres pensantes que, além de se ouvirem, também se enxergam.

Mas como é difícil simplesmente aceitar as tantas vezes em que fomos objeto e as que fizemos do outro objeto. Perceber que, em determinadas situações, não desejamos conversar e sim apenas sermos escutados. Noutras, não desejamos opinar, apenas deixar as palavras entrarem, saírem e retornarem como ecos, ecos de uma fala, ecos de um pensamento que podem exercer efeitos, muitos efeitos... nos seres falantes e também nos seres ouvintes - nesses casos, sou espelho e quase me sinto um caleidoscópio silencioso.

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