terça-feira, 1 de maio de 2012

Iceberg: o visível e o invisível


Ana Carolina Seara

Há 100 anos, o Titanic naufragou, foi o maior acidente da história da navegação envolvendo 1500 mortos. O filme Titanic do diretor James Cameron, lançado em 1997, retratou o maior naufrágio da história através do drama vivido pelos personagens: Rose e Jack. Um belo filme contando uma comovente história baseada em fatos reais, na qual o personagem principal poderia ter sido o iceberg, que atravessou a vida de milhares de pessoas, alterando seus destinos para sempre.

No ano do centenário do naufrágio do Titanic, resolvo dar foco ao iceberg que, a meu ver, foi o responsável pela mudança dos rumos da história de milhares de vidas, não só daqueles que morreram na tragédia, mas dos sobreviventes e também pelo impacto  desse acidente na vida dos familiares e amigos dos passageiros e tripulação e de todos os envolvidos na construção, do até então, maior navio de passageiros do mundo.

Um iceberg no meio do caminho alterou os rumos da história. Em vista disso, penso que deveríamos dar mais atenção aos icebergs que encontramos pelo caminho. Icebergs são blocos de gelo que se desprendem de geleiras em áreas polares do planeta. São formados por água doce e o que pode ser avistado no mar normalmente se refere somente à sua ponta (décima parte do seu tamanho).

Quem já não ouviu a expressão, “isso é apenas a ponta do iceberg”? Essa expressão diz respeito ao fato de que nem tudo pode ser visto, muitas coisas ficam invisíveis, o que não quer dizer que não existam ou influenciem na parte que aparece. Assim é nosso funcionamento psíquico, o que mostramos de nós mesmos é apenas uma pequena parte do que somos. Aquilo que podemos dizer de nós mesmos, que, na abordagem Gestáltica, é chamado de função personalidade, como nome, profissão, vínculos familiares, o que conhecemos sobre a forma de nos relacionarmos no mundo, etc. é só uma parte dessa estranha ou fantástica configuração que somos nós.

Quando alguém faz terapia começa a trazer para a superfície partes suas que até então desconhecia, ela amplia seu conhecimento sobre si mesma e com isso aumenta suas possibilidades de escolha. É certo que sempre teremos partes submersas, talvez uma vida seja pouco para conhecer todas as nossas partes, mas isso faz parte do mistério da vida e, na terapia, também se aprende a lidar com limites e a abrir mão do excessivo controle, porque uma vida milimetricamente planejada nem sempre é uma vida vivida.

É importante saber que, assim como os icebergs, temos uma parte visível e uma parte oculta, e que nossas escolhas são realizadas baseadas no todo, afinal somos também aquilo que não sabemos sobre nós mesmos. Ter clareza sobre isso nos dá uma certa autonomia e responsabilidade pelas escolhas que fazemos.

Nem todos os acidentes de percurso podem ser controlados, mas, ao termos noção do nosso “tamanho”, podemos recorrer a desvios possíveis, escolher caminhos e nos responsabilizarmos pelo rumo da nossa história.

5 comentários:

  1. Gostei muito do seu texto.
    Vivemos num mundo tão agitado e dinâmico que nem 10% conseguimos perceber e conhecer sobre nós mesmos, quanto mais nos outros. Com isso, todo cuidado é pouco, porque a qualquer momento podemos tropeçar em "pedras", pedaços, que caem de quando em quando, diminuindo cada vez mais essa porcentagem de conhecimento.
    Abraços.

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    1. Obrigada Terezinha!
      Acho importante termos um pouco de noção sobre "quem" somos nós...talvez assim possamos desviar das pedras e recuperar nossos pedaços perdidos pelo caminho!
      Abraços!

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  2. Parabéns, mais um belo texto. Voltei a escrever...se tiveres interesse ou curiosidade...
    http://fredericodaluz.wordpress.com/

    Frederico da Luz

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