quarta-feira, 13 de junho de 2012

Não tente compreender



Ana Carolina Seara

Parece que o dia dos namorados inspira... inspira todos a pensarem nos relacionamentos. A mídia explora com apelo comercial, afinal é preciso vender! Mas, mesmo que não compremos, somos “chamados” pelos meios de comunicação a ver, ler ou pensar sobre o tema.

Noutro dia, ouvi um comentário sobre um movimento que estaria crescendo, o de pessoas engajadas na opção de serem assexuadas. (!!) Diante desse paradoxo, começo a pensar numa possibilidade que, até então, não tinha cogitado: a de solteiros convictos que não desejam relacionar-se. É com estranhamento que me pergunto se isso seria possível... ou seria apenas uma evitação do envolvimento amoroso??

Como não sou adepta a leis fixas e regras (afinal elas mudam conforme a época, a sociedade, a cultura e até em virtude dos modismos), não temos como saber se essa nova possibilidade é o resultado daquilo que fizemos com o que fizeram da gente; se realmente é uma opção (e não uma falta de opção melhor) ou se é uma “evolução”, um novo modo de viver (só e bem acompanhado). Fica a pergunta. Espero que, em alguns anos, possamos respondê-la.

Mas... a mídia nos chama! Chama a pensar nos casais, nos casamentos, nos namoros, paixões, amores, rolos (e toda a infinidade de possibilidades que são criadas atualmente). Estamos realmente “condenados” , “condicionados” ou  “destinados” a desenvolver um relacionamento amoroso ao longo da vida??  Seria esse um dos motivos para se viver: crescer, se desenvolver, se relacionar, gerar descendentes e morrer? É para isso que existe a paixão, o amor e os relacionamentos? Como não podemos dizer quem veio antes: o ovo ou a galinha, e não pretendo, nesse momento, abordar questões religiosas, não temos como saber se o amor é um sentimento desenvolvido para preservar a espécie ou é algo que nos arrebata e nos leva a desejar, sem muita explicação, a união com um parceiro (seja de qual gênero ele for) para quem sabe então, dessa união formar uma família (com “frutos” próprios, adotados ou sem frutos).

O que nos leva a escolher (se essa for a opção) um parceiro? Hoje pode-se escolher, hoje é possível escolher e depois de um relacionamento, um casamento, separar (sem ser visto com “maus” olhos pela sociedade). Hoje, temos tantas possibilidades, tantos fatores a ponderar, que tornam a escolha tão difícil quanto na época em que não se tinha possibilidades e era preciso aceitar uma imposição familiar.

Mas, apesar dos tantos pontos a pesar na balança, certamente não é o corpo escultural (ou musculoso), o rosto simétrico, a habilidade social, a prosperidade econômica ou mesmo as palavras sedutoras ditas nos momentos certos, que nos levam a escolher um parceiro. Possivelmente, somos atraídos pelo desvio, pelo não visto, pela ruga no canto do rosto, pelo brilho dos olhos, pelo cheiro e pela forma como somos convidados a entrar no mundo desconhecido desse outro... que, como insiste em dizer a maior parte dos poetas, chega sem hora marcada e nos pega de surpresa.

Somos surpreendidos, então, pelo desvio, pela sensação de nos vermos espelhados no olhar alheio, pelo reconhecimento de algo familiar que aparece nas palavras, no modo do sorrir e no jeito de tocar desse estranho, pelas infinitas artimanhas das nossas próprias formas de viver...

Somos atraídos pela possibilidade de encontrar algo, que não sabemos o que é, mas que nos promete a sensação de estar feliz... de estar mais feliz do que sozinhos.

Um comentário:

  1. Show Ana, mais uma vez uma bela reflexão! Tenho um textinho nessa linha, no entanto bem mais breve que o teu, quem tiver curiosidade pode acessá-lo.
    http://fredericodaluz.wordpress.com/2012/06/12/dia-dos-namorados/

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